Luciana Martinez e sua trajetória acadêmica: como a afinidade com números da época de escola se tornou docência, pesquisa e resistência

Luciana Martinez e sua trajetória acadêmica: como a afinidade com números da época de escola se tornou docência, pesquisa e resistência

 

Professora Associada IV da Universidade Federal da Bahia, Luciana Martinez se graduou em Bacharelado em Matemática pela Universidade de São Paulo, em 1994. Fez mestrado em Ciências pela Universidade de São Paulo e doutorado em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas nos anos de 1996 e 2001, respectivamente. Luciana atua sobretudo nas áreas de planejamento energético e sistemas de energia elétrica, além de possuir experiência em Otimização Linear e Não Linear.

1. Quais foram suas motivações para escolher essa área de atuação?

Seguir a carreira docente na área de ciências exatas foi algo que aconteceu de uma forma bastante natural na minha vida. Durante minha vida escolar sempre tive mais afinidade com as disciplinas ligadas aos números, o que me fez optar pelas ciências exatas. Ao entrar na graduação e me deparar com o mundo de conhecimentos e oportunidades que a Universidade oferece, eu decidi que faria parte dela por um longo tempo. A graduação seria apenas o primeiro passo, minha meta era o doutorado e a carreira acadêmica.

2. De todas as várias conquistas que obteve em sua carreira acadêmica, de qual você mais se orgulha?

Considero que minha carreira acadêmica é cheia de várias pequenas e constantes conquistas, que de alguma forma contribuíram e continuam contribuindo para a minha formação profissional e crescimento pessoal. Tais conquistas tiveram início com o concurso para a carreira docente no Departamento de Engenharia Elétrica e de Computação (DEEC) da UFBA e acompanham alguns projetos de ensino e pesquisa que venho realizando no decorrer do meu trabalho como docente no DEEC. Dentre as realizações que considero conquistas, a tutoria do PET foi sem dúvida a mais marcante. Uma experiência extremamente enriquecedora, motivo de muita alegria e gratidão. Como petiana eu tive a oportunidade de participar de maneira mais ativa do processo de formação de estudantes do curso de Engenharia Elétrica, de conviver com estudantes e docentes de diferentes cursos de graduação, aprender mais sobre horizontalidade, cidadania, direitos humanos, diferenças e respeito. Como eu já disse algumas vezes, o PET me fez melhor. <3

3. Qual a sua ênfase de pesquisa? Pode explicar um pouco sobre?

Minha área de pesquisa é basicamente otimização não linear e modelos de séries temporais, com aplicações na modelagem e solução de problemas de planejamento energético na geração de sistemas de energia elétrica.

4. Quais entidades e/ou grupos de pesquisa já participou/coordenou? Pode falar um pouco sobre sua vivência em cada um?

Dentre as entidades estudantis do DEEC da UFBA, eu tive a feliz oportunidade de participar de um projeto pelo qual tenho muito respeito e admiração, o projeto Onda Elétrica. Participei de algumas edições do projeto como colaboradora e em uma das edições como coordenadora. Tive também a feliz oportunidade de participar do PET, conforme já comentei anteriormente.

5. Qual foi a maior dificuldade que você enfrentou durante seu trajeto? Em algum momento sentiu que, por ser mulher, foram impostas barreiras maiores para você?

Eu acredito que, de uma forma geral, uma das grandes dificuldades enfrentadas tanto no processo de formação universitária como no exercício da carreira acadêmica nas Universidades públicas do nosso país está relacionada à falta de incentivo financeiro, ao pouco reconhecimento e muitas vezes pouca credibilidade dada à pesquisa nacional desenvolvida. O descaso com a educação, em seus diferentes níveis de formação, tem sido um constante desafio enfrentado por educadores e estudantes, com consequências devastadoras no crescimento econômico e social do país.

Em relação à questão de gênero, minha formação acadêmica, e atualmente minha vida profissional, sempre se deram em ambientes formados predominantemente por homens. Felizmente muita coisa mudou do período da minha graduação para os dias de hoje, a qual se deu em um ambiente extremamente machista. Essa mudança se deu graças as constantes lutas pelo empoderamento feminino, a resistência e o empenho de mulheres na busca por qualificação e reconhecimento profissional. Mas essa luta é constante, pois há muito ainda a ser conquistado em relação à equidade salarial e de oportunidades, credibilidade e respeito. Na área acadêmica, infelizmente ainda percebo que existe uma certa diferença quanto ao reconhecimento da capacidade entre docentes homens e mulheres, principalmente no que diz respeito à pesquisa científica. O número de docentes mulheres em cursos de Engenharia também ainda é bem pequeno, sendo a maioria, nesse caso, de mulheres brancas.

6. Já foi tratada de forma diferente (positiva ou negativa) no ambiente acadêmico por ser mulher?

Prefiro não responder. E o fato de ser algumas vezes tratada de forma diferente por ser mulher nunca me parece algo positivo.

7. Em algum momento da sua trajetória você pensou em desistir? Se sim, por quê?

Durante minha trajetória acadêmica, seja como estudante ou como docente, eu sempre procurei não desistir diante das dificuldades. Desistir muitas vezes pode significar abrir mão de raras oportunidades.

8. O que você diria para as meninas que têm interesse em seguir carreira nas áreas de exatas e engenharias, mas estão preocupadas com as dificuldades que podem encontrar quanto à não equidade de gênero?

Para chegar no lugar que escolhemos é preciso muito empenho e muita dedicação. Busquem seus sonhos, lutem pelo que acreditam, ocupem os espaços, resistam, exijam respeito e respeitem sempre.

9. O que te motiva atualmente?

Confesso que o cenário atual é bastante desmotivador, diante dos constantes ataques à educação pública. Mas eu continuo tentando colaborar com meu trabalho docente em favor de uma educação gratuita de qualidade, procurando incentivar estudantes na pesquisa e no desenvolvimento científico, visando sempre colaborar para a que a Universidade se mantenha resistente.

10. Quais as suas próximas metas? Tem algum novo projeto em mente?

Atualmente estou dedicada ao desenvolvimento da minha pesquisa, me atualizando com os novos trabalhos na área, organizando ideias para um projeto que possa envolver estudantes bolsistas.

#FORABOLSONARO

Tíscile Cabral

Tíscile Cabral

Estudante do curso de Engenharia Elétrica e amante da física. Sou apaixonada por café, gosto de ouvir música e também de cozinhar para as pessoas que amo.